sábado, 19 de março de 2011

A energia da gente não morre!

20 a 26.03.2011

Lembrando da última mini crônica (O que alimenta o nosso coração?), se poderia dizer que os corações de cada um são alimentados por coisas diferentes. Ainda bem que é assim. Já pensou como seria se todo mundo se alimentasse da mesma fonte?
Se a gente para e vê - em pensamento - os amigos, percebe que cada um, certamente, se alimenta de forma diferente. Mesmo que o referencial seja ser mais humano, a energia vital individual que dá equilíbrio e movimento ao corpo e à mente de cada um é diferente.
Existem várias formas de indignação e também de resignação. Há diversos modos de enxergar os fatos, e às vezes tem aqueles que não os enxergam ou não os quer enxergar. O colorido ou o descolorido pode ter intensidade diferente dependendo da idade, gênero e local em que se vive. O mesmo fato que acontece no ensino fundamental entre amigas de 12 anos é diferente quando já se está no ensino médio.
Todos nós somos diferentes. A reação que cada um tem à morte ou a atitude diante da vida é inexoravelmente relacionada a cada um e a sua realidade neste mundo, aos seus relacionamentos.
Para alguns, talvez, o pensamento seja o mesmo de Augusto Boal, com a compreensão de que atores somos todos nós. Assim, a vida seria um teatro e cada coisa construída uma poesia. E nos alimentaríamos da arte, que tanto pode se traduzir em comédia, drama ou tragédia.
E, no contexto dos atos da vida, alguns talvez permanecessem com Boal: “cidadão não é aquele que vive em sociedade – é aquele que a transforma”. E se a transforma permanece nela, independentemente se está vivo ou morto.
Talvez por isso, cada vez mais o ser humano, quem sabe para se completar no teatro da vida, procure resgatar a sua parte de artista que lhe cabe. E talvez isso também explique o grande apelo dos livros de autoajuda, o incremento da procura por identidade espiritual e a imensa proliferação das mídias sociais e dos blogs dos mais diversos tipos e sabores. Quiçá seja a tentativa de se autoencontrar, de ser cidadão, de viver eternamente por meio de textos e bate-papo/encontros.
Talvez seja a desesperada procura de manter a sua energia viva entre nós. Por isso, são tão interessantes as palavras de Airton Monte em sua crônica “Um anjo torto”, sobre Carlos Drummond de Andrade, ao se referir à morte do poeta: “o último dia na vida de um poeta não é o último dia da sua poesia”. 
Sábias palavras, que com perdão da referência e da “vulgarização” do fazer poético corroboram a hipótese: a energia da gente, que faz a todos nós atores, é como poesia; não morre nunca. Mesmo que a poesia seja construída pela vida de uma menina de doze anos que morreu prematuramente; mesmo que essa poesia seja resultado da exteriorização  incipiente de sua arte.

4 comentários:

  1. que lindas palavras, Alci... Lembrei muito dum texto que li há muito tempo que falava de um sábio, que ficava na entrada de uma cidade, sempre perguntando dos viajantes que chegavam o que esperavam encontrar e como era de onde vinham. Aí, certo dia, chegou na cidade um rapaz dizendo que procurava naquela nova cidade tudo o que não havia encontrado na sua de origem, paz, amizade, alegrias. No dia seguinte, chega na cidade um rapaz muito alegre, que vinha da mesma cidade do outro rapaz, e disse ao sábio que vinha duma cidade muito boa e queria encontrar na nova cidade tudo o que encontrou na outra, amigos, alegrias... ou seja, são os nossos olhos e o nosso espírito que decidem se um copo com água pela metade está quase seco ou quase cheio.

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  2. Pois é Maria Renata, tem algumas frases, pequenas sabedorias populares, que tratam um pouco disso. Um pouco no espírito do provérbio:
    "A galinha do vizinho é sempre mais gorda do que a nossa". Também tem aquela que fala "pimenta nos olhos dos outros é refresco". Existe também outra que diz "vês um cisco no meu olho e não percebes uma trava no teu". Daria até para numa visão mais ampla, perceber relação em "quem tudo quer tudo perde". Mas tem uma que é forte ao dizer que Deus não gosta de quem só fica reclamando da vida sem olhar o que os outros passam. Concordo contigo, esse limiar da percepção é difícil. Outro dia, a minha filha Aline comentou algo sobre isso, em sua sabedoria juvenil: "o importante não é o lugar, o importante é quem vai estar lá comigo". Abs

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  3. Boa noite, Alci!
    Estava devendo essa visita com mais calma e mais pausada; absolver o sentido de cada palavra, das frases postas, das emoções/sentimentos que possam ter sido cortejadas.
    São temas diversos, mas amarrados por um fio bem peculiar. Escrever de algumas coisas, do cotidiano, e postar sobre a vida. Penso que comentamos vários deslizes. Deslizes de aproveitar a vida, por perdermos muito tempo com poucas coisas, por não saborear e ter mais tempo com os amigos. A vida, por vezes, carrega o contraditório. Ou melhor, cobra o preço...o preço do viver; do saber viver. Se viver para mais um dia trazer consigo o ter um dia menos. Mas como saber o quanto de vida cada um tem? Nem mesmo a natureza é capaz de garantir "uma vida longínqua e tranquila". E muito menos somos capazes de despertar para o mistério da vida. Ou para entender que saber sobre a morte é pode descobrir a vida.
    Parabéns pelo texto!

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  4. Caro Asas de Papel (Laecio). Outro dia, quando voltva da compra do peixe, ali no Mucuripe (final da Beira-Mar no calçadão de Fortaleza-CE), uma amiga, que estava correndo, me encontrou. Uma das frases dela: "a gente precisa ter termpo para encontrar com os amigos, tipo no final do dia, contemplar". Isso é necessário e não é contraditório com transformar a sociedade. E possibilita que a gente avance um pouco mais em conhecer os mistérios da vida. Abraço,

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