domingo, 27 de março de 2011

Um dia sem sorriso é um dia perdido!

27.03 a 02.04.2011

“Um dia sem sorriso é um dia perdido”.
Uma frase simples, escrita num diário, talvez numa breve reflexão sem compromisso, mas que se nos deixarmos aprofundar no que ela diz, a gente verifica que pode dizer muito.
Com certeza não foi inspirada no profeta Gentileza e sua nobre frase: “gentileza gera gentileza”. E também não foi fruto da audição da música Gentileza de Marisa Monte: “Nós que passamos apressados pelas ruas da cidade merecemos ler as letras e as palavras de Gentileza”.
Talvez seja fruto da poesia e vigor juvenil que existe em cada criança e adolescente, onde o sorriso brota fácil, límpido, poderoso. Talvez seja reflexo da carga de energia potencial gerada pelo crescimento na fase pré-adolescente. Talvez seja resultado da filosofia que reina nos jovens, do pra que stress? A vida é pra ser vivida, vamos vivê-la, ria das coisas.
Parece que os jovens não têm preocupação, não pensam no depois de amanhã; parece que eles sentem a possibilidade de construir e reconstruir as coisas e que, talvez, não se deva tratar tudo, a toda hora, com tanta seriedade.
Será que os jovens têm, naturalmente, conhecimento de que “rir é o melhor remédio”, que faz bem à saúde? Talvez por isso, geralmente, os jovens se afastam ou têm receio daqueles que lhes fazem cara feia. Será que por carga genética eles saibam que mau humor não está com nada?
Pensando nos colegas socialistas, idealistas, humanistas, não se pode deixar de pensar: e os jovens que estão nas áreas de conflitos aqui no Brasil? Nas favelas, nos serviços forçados, nos assentamentos à beira das estradas? Será que uma frase dessas é descontextualizada e vista como autoajuda?
Quem sabe a menina de 12 anos considerasse, quando escreveu a frase, que da mesma forma que para ela era perdido um dia sem sorriso, todos aqueles que são impossibilitados de sorrir, principalmente os jovens, por quaisquer motivos, em quaisquer localidades, também têm um dia perdido.
Cada um vive a sua vida e enfrenta os problemas relacionados a ela. E como o profeta Gentileza falava: “nossa cabeça, nosso mestre”.
Na sabedoria de quem é ainda adolescente, que escreve suas emoções num diário, a profecia de que um sorriso não deve ser perdido ou uma criança não deve deixar de ganhar o seu dia deve ser respeitada.  
É mais um exemplo de que, como dizia uma crônica, “a energia da gente não morre”. Energia que fica nas lembranças, nas palavras, na poesia, para sempre.
Alci de Jesus

sábado, 19 de março de 2011

A energia da gente não morre!

20 a 26.03.2011

Lembrando da última mini crônica (O que alimenta o nosso coração?), se poderia dizer que os corações de cada um são alimentados por coisas diferentes. Ainda bem que é assim. Já pensou como seria se todo mundo se alimentasse da mesma fonte?
Se a gente para e vê - em pensamento - os amigos, percebe que cada um, certamente, se alimenta de forma diferente. Mesmo que o referencial seja ser mais humano, a energia vital individual que dá equilíbrio e movimento ao corpo e à mente de cada um é diferente.
Existem várias formas de indignação e também de resignação. Há diversos modos de enxergar os fatos, e às vezes tem aqueles que não os enxergam ou não os quer enxergar. O colorido ou o descolorido pode ter intensidade diferente dependendo da idade, gênero e local em que se vive. O mesmo fato que acontece no ensino fundamental entre amigas de 12 anos é diferente quando já se está no ensino médio.
Todos nós somos diferentes. A reação que cada um tem à morte ou a atitude diante da vida é inexoravelmente relacionada a cada um e a sua realidade neste mundo, aos seus relacionamentos.
Para alguns, talvez, o pensamento seja o mesmo de Augusto Boal, com a compreensão de que atores somos todos nós. Assim, a vida seria um teatro e cada coisa construída uma poesia. E nos alimentaríamos da arte, que tanto pode se traduzir em comédia, drama ou tragédia.
E, no contexto dos atos da vida, alguns talvez permanecessem com Boal: “cidadão não é aquele que vive em sociedade – é aquele que a transforma”. E se a transforma permanece nela, independentemente se está vivo ou morto.
Talvez por isso, cada vez mais o ser humano, quem sabe para se completar no teatro da vida, procure resgatar a sua parte de artista que lhe cabe. E talvez isso também explique o grande apelo dos livros de autoajuda, o incremento da procura por identidade espiritual e a imensa proliferação das mídias sociais e dos blogs dos mais diversos tipos e sabores. Quiçá seja a tentativa de se autoencontrar, de ser cidadão, de viver eternamente por meio de textos e bate-papo/encontros.
Talvez seja a desesperada procura de manter a sua energia viva entre nós. Por isso, são tão interessantes as palavras de Airton Monte em sua crônica “Um anjo torto”, sobre Carlos Drummond de Andrade, ao se referir à morte do poeta: “o último dia na vida de um poeta não é o último dia da sua poesia”. 
Sábias palavras, que com perdão da referência e da “vulgarização” do fazer poético corroboram a hipótese: a energia da gente, que faz a todos nós atores, é como poesia; não morre nunca. Mesmo que a poesia seja construída pela vida de uma menina de doze anos que morreu prematuramente; mesmo que essa poesia seja resultado da exteriorização  incipiente de sua arte.

segunda-feira, 14 de março de 2011

O que alimenta o nosso coração?

13 a 19.03.2011

A última mini crônica tratou dos sentimentos dos animais. A percepção de que os animais têm capacidade de compartilhar os seus sentimentos com as pessoas e que isso tem importância, a ambos.
E não é difícil se perceber numa grande cidade, como é Fortaleza, uma energia que se poderia considerar fantástica, de pessoas simples, desapegadas de tudo, mas que sentem um grande amor pelos animais.
É a senhora de meia idade, que aparenta não ter muitos recursos, mas que traz em diversos sacos, a comida que alimenta os gatos no bosque da Aldeota. É o senhor, que se poderia dizer passou a noite carregando papelões nos carrinhos que circulam a cidade de ponta a ponta, que alimenta logo pela manhã dezenas de pombos, jogando restos de pão na calçada perto das lojas que ficam próximas ao supermercado da Antonio Sales.
Não se vê nos rostos dos dois, da senhora dos gatos ou do senhor dos pombos, nenhuma expressão de contentamento extravagante. São movimentos leves, concatenados, aparentemente um ritual diário. Para quem observa algo domina as suas mentes, como se fossem maestros mágicos executando movimentos de regência de uma orquestra, onde os gatos e os pombos são os músicos. Executar aquilo parece lhes fazer bem. É como se alimentando aos animais, alimentassem também seus corações, suas almas. Um semblante de anjo os cobre.
Naquele breve olhar àquelas pessoas, numa pequena distração ao volante do carro parado num sinal, faz-se uma viagem profunda dentro da alma, talvez procurando perceber-se com tal sentimento na história da vida vivida.
Neste momento não há como deixar de sublimar-se, mesmo sabendo que a vigilância sanitária orienta que não se alimente os pombos. Percebe-se que tanto gatos quanto pombos ficam alegres pela fome saciada, e agradecem do seu jeito, com leve ronronar ou arrulhar.
Ao senhor dos pombos e à senhora dos gatos o muito obrigado pelo alimento ao coração.

Alci de Jesus

sábado, 12 de março de 2011

Os cachorros também sonham

06 a 12.03.2011

A última mini crônica explorou que a alegria está ao nosso redor, em pequenas coisas que a gente só precisa ter um pouco mais de atenção para enxergar. Assim como enxergar as desigualdades e a violência também.

Notícias sobre as ações que estão sendo realizadas por pessoas e entidades protetoras dos animais expressam isso. Pessoas que têm sensibilidade à causa dos indefesos, que, por vezes, são os melhores - e únicos - amigos do homem e que, certamente, deveriam ser criados para fazer o bem e não sem o mínimo respeito.

No triste episódio das enchentes dos morros cariocas, viu-se a linda manifestação, espontânea, de grupos de apoio e de pessoas descomprometidas com a causa, mas intensamente respeitosas à dor das pessoas e daqueles com as quais elas conviviam também: seus animais de estimação. Feiras de adoção foram realizadas para os animais sobreviventes.

Os animais têm uma intensa relação com aqueles com os quais eles convivem, e, geralmente, numa casa escolhem o seu dono predileto, aquele com o qual ele sempre procura o carinho, a brincadeira, a proteção. Esse laço é tão forte que os sentimentos dos animais afloram e são perfeitamente perceptíveis. Quem nunca percebeu e até expressou, mesmo que intimamente: ele falou com os olhos, parece que gostou de mim!

O sentimento de um animal é similar ao sentimento do homem, e com mais pureza. Leonardo Boff, em recente artigo, sob o título "A poetisa, a mística e a gata", expressa o sentimento da gatinha Arcibalda por Adriana Zarri, citando que no funeral da teóloga, uma amiga da escritora ao aproximar o animal do corpo da poetisa percebeu que a gatinha "parecia que lacrimejava".


Aquele que passa ou passou por uma grande perda, parece que é jogado abruptamente nesse campo de percepções. E começa a entender porque algumas pessoas, no dia a dia, são tão devotas aos animais.

Mesmo que saibamos a grande necessidade que há no mundo, tantas pessoas passando fome inclusive, quem tem sentimentos pela humanidade, de uma forma coletiva, não pode ficar inerte, insensível, diante dos animais, também.

Dias atrás, ouvindo um barulho estranho, atrapalhando o sono, que há meses já não é muito bom, silenciosamente pude observar, num acordar esquisito, a Nina, a York Shire da Carol, em movimentos que pareciam demonstrar que ela estava sonhando. Era como se brincasse com alguém. A ideia que chegou foi que brincava com a Carol.

Essa ideia, que trouxe intensa emoção, permaneceu, porque ao buscar na internet alguma informação, uma grande surpresa: os cachorros também sonham! São coisas assim, pequeninas, que nos deixa muito alegre.

Alci de Jesus

quarta-feira, 9 de março de 2011

A alegria e a satisfação continuam ao nosso redor


27.02 a 05.03.2011

Na semana passada, a mini crônica tratou da possibilidade de transformar dor em alegria. Muita gente tem falado dessa possibilidade. Mas, também, todos apontam a dificuldade de se concretizar isso.

Por isso mesmo, talvez aquilo que dê mais resultados em curto espaço de tempo seja seguir o conselho de quem já passou por grandes dificuldades: dar valor às pequenas coisas. Olhar de forma diferente para aquilo que sempre esteve ali e não se enxergou de modo a trazer prazer, alegria.

Aí, o mais reconfortante é olhar para as crianças em sua ingenuidade e pureza. Como é bom ver o bebê sendo carregado pela mãe no elevador e olhar pra gente com aquela carinha de satisfação, por ter o calor e o conforto materno! Como é bom ver a mãe radiante diante da filha, exalando um amor tão grande, que é tão visível pra quem quer ver!

E, na verdade, em todo momento é possível, examinando melhor o que vemos encontrar singelezas. É um casal de canários que "pasta" tranquilamente nos jardins particulares de uma grande instituição; é a alegria estampada nos olhos de quem está prestes a ter uma nova sobrinha; é a tranquilidade de quem, na fase do vestibular, já conseguiu seu objetivo. Também é muito saboroso andar na areia da praia, vislumbrar o mar, deixar os pensamentos tranquilos, seguindo o vai e vem das ondas.

Nestes momentos, a lembrança do ente querido que seguiu o seu caminho em outros planos é recheada, até, de um sorriso. De um "flash back" alegre e virtuoso. Parece que há uma descarga de vibrações positivas e o corpo responde com relax e prazer. Poder-se-ia dizer que é uma das expressões do amor: uma sensação de bem estar, de felicidade.

Mesmo que a gente saiba que é um pouco de egoísmo, porque tem tanta gente passando por dificuldades e a vida não se resume à satisfação de um ser individual, é bom se sentir bem. Certamente dá forças para seguir em frente; para se engajar nos velhos ou em outros projetos, individuais ou coletivos.
É muito bom, ainda mais depois de uma grande perda, aos poucos, a gente saber que a alegria e a satisfação não deixaram de fazer parte de nossas vidas, e que elas estão ao nosso redor, é só a gente deixar-se enxergar.
Alci de Jesus

quarta-feira, 2 de março de 2011

É possível transformar dor em alegria

20 a 25.02.2011
Na crônica da semana passada foi tratado de humanidade. E a tradução de humanidade em amor e solidariedade. De fato, a expressão mais óbvia ao tratar de alguém que é justo, extremamente afeito a executar com sentimento algo que vai fazer bem ao outro é: ele é humano.
Qualquer ser humano percebe quando uma pessoa é humana ao ponto de realizar coisas humanas com infinita espontaneidade, com naturalidade da alma. Esta espontaneidade, naturalidade, a gente percebe muito presente quando se está no velório de alguém, especialmente, naquelas pessoas que não são nem tão relacionadas ao espírito em ascensão, mas que estão tão sofridas como um parente próximo.
Geralmente, a humanidade se manifesta na percepção e até no sofrimento de dor, na empatia pela dor do outro. Não se pode negar que naquela dor sentida está a expressão maior de que somos humanos, somos irmãos. O que dói em você dói em mim. Por isso quanto mais puder ser feito para confortar alguém que está sofrendo, mais faremos.
Vários humanos transmitem o seu conforto no dia a dia aos que sofrem. Uma palavra escrita, e enviada por e-mail, com uma fábula de um sábio, conforta; assim como a socialização do problema mais íntimo de uma família. Tudo para confortar um amigo e mostrar que por sermos humanos, queiramos ou não, nós temos uma vida finda, e em cada casa, em cada lugar, tem alguém que está sofrendo ou já sofreu.
Mas, a dor e a alegria fazem parte da humanidade, assim como todo dia o sol nasce e se põe. Saber viver neste universo de sentimentos e ser humano, compreendendo e vivendo o amor e sendo solidário, é para todos. Mesmo que pareça que alguns não saibam disso. Mesmo que teimemos em passar do ponto no sofrimento, na vida humana a gente se transforma e pode transformar dor em alegria; sonho em realidade; morte em vida. Quem morre não deixa de viver!
Alci de Jesus

Humanidade: isto nos faz sensíveis

14 a 19.02.2011
Nestas semanas o que mais tem chamado a atenção é o carinho e a fraternidade das pessoas. É impressionante como o ser humano tem a capacidade de ter empatia com situações que trazem angústia, dificuldades ou perdas ao outro. A sensibilidade se dá em muitos graus, a gente sabe, mas não há quem não tenha se emocionado e se fragilizado com os acontecimentos das enchentes motivadas pelas chuvas que afligiram milhares de pessoas, ou, então, com alguma tragédia de uma família estampada nas manchetes do jornal.
A comoção é maior quando são atingidos bebês, crianças e adolescentes. Parece que uma sensação de estar na pele de quem está sofrendo é imediata, e a mente comanda o coração e o corpo para expressarem sua dor, por vezes, em calafrio, arrepio, taquicardia, vazio no estômago e choro.
O choro é a expressão, talvez, mais visível do sentimento, e é contagioso. É difícil segurar a emoção quando você vê uma mãe ou um pai chorando, profundamente, às vezes, tentando segurar o choro pela morte de uma filha querida. Também é difícil conter as lágrimas quando você vê um amigo consternado, apresentando os pêsames chorando ou visivelmente abalado. Mesmo vivenciando muita dor pela perda de uma filha querida, você tem empatia pela dor do amigo que chora.
É um momento forte, que passa tanta energia ao ponto de, por incrível que possa parecer para qualquer um, ter um pouco de alegria; alegria por saber que alguém amou, mesmo que de forma indireta, o ente querido ausente agora desta terra. Por isso não é estranho chegar aos ouvidos de quem está sofrendo, que fulano mandou um grande abraço ou que beltrano desejou o amparo espiritual etc. Mesmo que não se conheça fulano ou beltrano.
Às vezes, basta um olhar, um aceno, não falar. Tem gente que fica tão tocado que, apesar de ser muito amigo, parece não ter coragem de enfrentar a dor do outro, porque sabe do infinito amor que o mesmo tinha por quem já não convive mais neste mundo e lhe é muito caro. Tudo isso se resume numa palavra: humanidade. Humanidade que nos faz sensíveis ao amor e à solidariedade e que nos dá a possibilidade de ter saudade de quem nós nunca deixaremos de amar.
Alci de Jesus

Com amigos é mais fácil dizer sim à vida

07 a 11.02.2011
Neste final de semana, consegui andar pela praia, correr pisando firme na areia, contemplar o mar e o bater das ondas sentado numa das barracas da beira mar. Um lugar privilegiado: à sombra, com amigos, conversando sobre filosofias de vida.
De vida? Sim. Porque não é só porque não se está mais de corpo físico nesta vida que se morre. Como falar que Marx está morto? Ele está mais vivo do que nunca, diria o materialista. Como? Morrer? Não há morte para quem acredita no espírito; busca-se um outro plano, o amadurecimento da vida espiritual para uma nova encarnação, reforça o espírita. O cristão católico destaca a fala de um jovem padre, numa missa de sétimo dia: "mil vezes mais tem quem alcança o Reino dos Céus; mil vezes mais alegria, mil vezes mais a paz: é incomensurável o amor junto ao Senhor. Algum dia nos encontraremos no amor do Pai e conversaremos como antigamente, com muito mais amor".
Aquela conversa, permeada por boas lembranças de quem nós continuamos e continuaremos sempre a amar, amparada pelo carinho, energia e vibrações positivas dos amigos-irmãos não tem medida. A sensação, naquele momento, como em vários momentos do dia, é de que a Vida é muito linda e que o melhor papel para quem fica aqui diante de quem já não está mais junto de nós, e que é muito querido, é amar intensamente, e lembrar as alegrias do relacionamento.
Como é bom ter amigos, como é bom saber que nas horas mais difíceis nós temos quem possa nos fazer uma ligação e dizer: "E aí amigo? Pode contar com a gente; nós sempre estaremos aqui". Isto é muito forte, talvez não tão forte quanto a dor de quem perdeu uma filha tão amada, mas, é certamente muito reconfortante.

Alci de Jesus