quinta-feira, 2 de junho de 2011

Tem gente que não gosta do centro das cidades.

Semana: 29.05 a 04.06.2011

Sem querer, de bobeira na internet, procurando por qualquer notícia, sem juízo de valor, a gente pode esbarrar, por exemplo, em questionamentos sobre o centro das cidades brasileiras e sobre os mecanismos que se tem utilizado para, muitas vezes, resgatá-lo, tanto como centro comercial quanto residencial ou quiçá histórico.

É normal que paremos pra pensar um pouco sobre o centro das nossas cidades, especialmente, se você mora em uma capital, que já é uma metrópole. Se não pensou de forma estruturada, com certeza já fez algum comentário, externou uma opinião.

Geralmente, o centro de uma cidade é onde tudo começou. Dali é que partiu a estruturação urbana, planejada ou não, da futura cidade. Normalmente, as cidades mais antigas não foram planejadas e tudo cresceu por aglomeração, em resposta às necessidades do desenvolvimento comercial e político da antiga vila, que vira cidade e capital, por exemplo. É por isso que, quase sempre, o centro da cidade é um espaço histórico.

Porém, uma capital, que já é uma metrópole, sempre tem problemas, ninguém pode negar. Mas é interessante notar as opiniões das pessoas e confrontar com a tal modernidade, que, às vezes, assombra.

Se você pergunta a uma pessoa que não gosta do centro de uma grande cidade, como Fortaleza, por exemplo, vários são os argumentos: é quente, imundo, o trânsito é caótico, tem poluição visual, entregadores de folhetos de todos os tipos, muitas pessoas circulando, gente feia e mal educada, faltam estacionamentos, os flanelinhas não são regulamentados, as calçadas estão tomadas de ambulantes, há insegurança e mendigos pedintes.

Já outras pessoas, que gostam do centro de Fortaleza e não deixam de ir pelo menos uma vez por semana, defendem o centro porque tem mais espaço para andar, você pode ir à vontade, as pessoas não ficam te observando se você não for arrumado, há uma sensação de mais liberdade, existem mais opções de lojas, é geralmente mais barato ou então os preços são mais variados, não se paga pelo luxo das lojas de um shopping ou pela segurança e câmeras de vigilância, ainda se vê os mais idosos conversando nas praças. Além de que tem os escritórios de mães e pais de santo, de dentistas populares e as ciganas, leitoras de mão. Afora que no centro se pode fazer o conserto de tudo, e comprar de tudo também.

Na realidade, no centro, geralmente, as coisas estão umas mais perto das outras, e você consegue percorrer tudo a pé. Você pode sair de uma loja de departamentos e comer um pastel com caldo de cana. Você tem acesso aos bancos, cartórios, livrarias e também pode comprar um livro antigo num sebo ou negociar na feira de troca-troca de livros. Essa diversidade parece ter uma grande atratividade, em especial, se você tem menos poder aquisitivo ou, então, quer exercitar a pechincha.

Alguém poderá dizer que, de certa forma, mantendo o princípio, um shopping é muito mais interessante e que já existem shoppings que têm as mesmas características do centro das cidades, só que sem os problemas clássicos dessas aglomerações.

Com certeza os que pensam assim querem se enganar. O centro é insubstituível. As pessoas gostam do centro, exatamente pela miscigenação de pessoas, atividades, sabores e cores, coisa que se pode tentar imitar em um shopping, mas sempre vai ser diferente da energia que se encontra no centro.

No caso de Fortaleza, onde que num shopping você vai encontrar um vendedor de quebra-queixo, com a sua caixinha e sua espátula tradicional, com o produto enrolado no papel manteiga e sob a fuligem dos carros que passam ao largo, pertinho da Igreja do Carmo? Ou então poderá comer um espetinho, ao cair da tarde, com uma cerveja gelada olhando para o Passeio Público? Ou encontrar com os amigos e saborear um frango ao passarinho à beira da Praça do Ferreira? Isso é cultura e é cultural.

É por isso que os defensores dos shoppings, nas rodas de cultura, são também aqueles que defendem a revitalização do centro. Porque ninguém agüenta viver sem a memória da origem de sua cidade. É como não ter também a memória de sua própria origem. E comprar e valorizar, em viagens culturais, a memória de outras cidades.

Viva aos pais que levam os seus filhos, mesmo que de carro, e lhes apresentam o centro da cidade, seus lugares históricos, suas praças, sua vida.
Quem dera pudéssemos ter a capacidade de num passe de mágica resolver os problemas dos centros de nossas cidades, sem que eles perdessem a sua identidade, mantendo a mesma energia que cativa tanta gente, que toda semana vai ao centro, mesmo que não vá às compras, simplesmente vá ao novíssimo Centro Cultural ou ao Teatro, centenário.

Alci de Jesus

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