terça-feira, 21 de junho de 2011

Vendo o tempo passar! (1)

Crônica da Semana: 19 a 25.06.2011

De repente, uma foto captura a gente. Muitas vezes, a gente passa por isso: deixar-se capturar por uma foto. Foto é arte, capaz de tocar profundo na alma. A imagem parece que tem uma magia, por isso aquele momento, estanque, registrado, pode fazer brotar em nós tantas reflexões.
No último dia 11, naquele jornal de sábado,
aquela foto (abra o link). Uma senhora, sentada de frente ao portão da casa, olhando para o tempo, e ao fundo, provavelmente uma estrada de asfalto e outras casinhas. Uma imagem como muitas por nós quase despercebidas: vilas, distritos, parecendo quase fantasmas, que quando se faz uma viagem passam pela janela do carro.


Ficar um tempo observando a foto-imagem é um exercício que se pode praticar e trazer mais revelações do que aquela que a gente sente de pronto. Porque sempre tem aquela sensação primeira. Aquela que você nem pensa e já chegou. Aquela que faz com que você goste ou não goste.

Mas, na maioria das vezes, é possível, numa segunda observação, verificar mais aspectos da foto; na realidade, encontrar novas visões sobre aquilo que ficou estampado, como por encanto na imagem fotografada. Daquilo que permeia o pensamento e a realidade que foi encantadoramente presa na imagem para sempre.

A simetria da mulher com o muro, com o portão, com as casinhas do outro lado da estrada. O relaxamento da senhora de meia idade, possivelmente, pela posição dos cotovelos, rezando. O vestido de linho, talvez, um dos melhores que tenha, daqueles para o dia de festa. O banho tomado, à tardinha, quando o sol já não tem tanta força e a rainha da noite se aproxima. Horário da reza, do terço alinhado nas mãos. Mesmo sem ver o rosto, se vê a dor, a tristeza, o luto.

Uma simples foto, mas com tanto significado, como bem expressa o texto sobre o filme
“Mãe e Filha”, (abra o link) de Petrus Cariry. A senhora da foto, agora também daqueles que a vêem e a reconhecem, não tem pressa, parou para ouvir o silêncio, e em meio às ruínas se “alimenta” de lembranças e esperança.

Quantos de nós não ficamos também, assim como àquela senhora, vendo o tempo passar? Quantos de nós não passamos por alguma experiência de solidão, luto e perda? Quantos de nós não poderíamos ver retratados numa foto, num filme a nossa alma, desejos, sombras, pulsões de vida e morte, como no filme do Petrus?

É legal saber que ainda se faz cinema assim,
cinema do encantamento, (abra o link) que arrebata prêmios, como foi o caso de Mãe e Filha, no 21º Cine Ceará.

É, de fato, um alento! Talvez desperte na gente, um olhar diferente, toda vez que passarmos por uma vila, distrito, quase fantasma, no meio do tempo.

Alci de Jesus

Um comentário:

  1. Belíssima crônica! Quando assistir o filme você vai se encantar mais ainda. Parabéns pelo texto!

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