quarta-feira, 11 de maio de 2011

Somos educados? (I)

Semana: 08 a 14.05.2011

O mês passado foi dedicado à leitura. Várias datas marcaram isso. Dia 02 de abril foi o dia internacional do livro infantil. Dia 18 de abril foi o dia nacional do livro infantil. Dia 23 de abril foi o dia mundial do livro e do direito do autor, e no dia 28 de abril comemorou-se o dia da educação.

Não sei por que essas referências vieram à mente quando o ator Clint Eastwood, numa dessas propagandas que vêm antes de um filme no cinema, disse: “afinal, nunca se sabe a quem um filme pode influenciar”.

Juntando as idéias dos parágrafos anteriores, realmente, em princípio, todo mundo defende a educação como um fator que influência as nossas vidas, como uma das possibilidades de mobilidade social. Geralmente a gente relaciona educação com a leitura, especialmente, de livros. E ser educado passa para muitos a idéia de pessoas que realizam as coisas de maneira adequada.

Mas será que essa defesa da educação não é só, como se diz, para inglês ver? E outra, será que a leitura de um livro educa mais do que uma atitude dos pais ou da própria coletividade?

A ligação que está sendo feita é que educação tem relação com a leitura de livros e que ser educado é fazer as coisas corretas. Mas, infelizmente, não é isso que a gente vê no dia a dia. Não é difícil, se você ficar um pouco mais atento, perceber.

Talvez fosse o caso de instituir um Dia Nacional para Avaliarmos a Educação de cada um de nós. Mas não precisava ser um dia específico porque se fosse assim muita gente podia, talvez, querer enganar e se passar por bonzinho. Tinha que ser uma coisa de dentro, de cada um e por isso mesmo, a pessoa poderia realizar sua avaliação em qualquer dia, desde que fizesse uma avaliação séria.

O Ministério da Educação poderia até reservar algum recurso a fim de treinar cada cidadão para se auto-avaliar. O treinamento abrangeria a auto-avaliação desde o acordar até o final do dia, focando em que cada um ficasse mais atento em cada atitude, sua ou dos outros.

Seria um exercício interessante.

Será que todos dão bom dia a suas secretárias? Ficam meio emburrados quando a secretária, não por um descuido, lê o jornal antes do patrão? Aborrecem-se porque a secretária não limpou a caca da cachorra, que não fez a coisa no lugar certo?

Na padaria, no supermercado, na compra diária do pão quentinho ou das compras da semana, uma das observações seria verificar se estão tirando o carrinho vazio da boca do caixa. Parece que quem vem atrás tem a obrigação de fazê-lo ou, talvez, haja a transferência dessa tarefa para a própria empresa, só que a empresa, geralmente, não faz daí quem paga o pato? E o pior é que as pessoas não estão nem aí, parece já ser uma obrigação cristalizada: quem vem atrás na fila do supermercado tira o carrinho vazio deixado por outra pessoa na boca do caixa.

No trânsito, na hora de deixar os meninos na escola ou ir e voltar do trabalho, muitas coisas poderiam ser observadas. Tem os que avançam o sinal, os que colocam o bico do carro na mão quando vão passar uma preferencial, os que não dão sinal algum se vão dobrar, os que andam pela contramão e se sentem totalmente à vontade – quem está na mão certa que desvie seu carro, os que buzinam por qualquer coisa sem observar que o trajeto está engarrafado e ninguém vai poder passar seu carro por cima dos outros, aqueles que ficam tão irritados, às vezes sem razão, e soltam palavrões. Com esses é preciso ter muito cuidado.

E o pior de tudo é que esses adultos fazem tudo isso na frente dos seus filhos menores.

Mas ainda tem muito mais coisas a serem observadas. Tem o tratamento com os filhos e com a mulher em casa, com os pais, com os parentes, com os amigos, com os vizinhos, com os colegas de trabalho. Será que é importante observar também a participação nas reuniões de condomínio? A contribuição que se está dando a comunidade onde mora? A voz no orçamento participativo do bairro?

De fato, observar as diversas relações que se tem, como, por exemplo, com as empregadas domésticas é um grande exercício de análise se somos ou não educados. Obviamente por trás de tudo isso tem coisas bem maiores, culturais, sociais, políticas; tem a questão da cidadania.

Às vezes, a gente vê a secretária ou o próprio dono do cachorro - que levou o saquinho para isso - agachado e resgatando as fezes do animal de estimação para colocar no lixo próximo. Muitos não o fazem, por quê?

Muitos desses são os mesmos que reclamam da Prefeitura por não realizar a coleta de lixo (mas não evitam colocar o lixo fora da data indicada pela empresa coletora) ou do administrador do condomínio da limpeza medíocre que estão fazendo da sua área comum (mas colocam a guimba de cigarro na escada e as cinzas em qualquer lugar do prédio).

Por tudo relatado, as respostas às perguntas poderiam parecer fáceis, mas não são. De fato, há muita retórica em relação à educação, senão as pessoas não agiriam do jeito que agem. Por outro lado, não é incomum uma filha que lê bastante pedir ao pai: "Pai, não dirija o carro fazendo ligação ao telefone". Ou, então, criancinhas que estão no infantil replicarem: você não falou as palavrinhas mágicas! Isso indica uma luz no fim do túnel, afinal de contas nem sempre "filho de peixe, peixinho é"!

Alci de Jesus

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