domingo, 15 de maio de 2011

O que faz a gente torcer é o mesmo que faz a gente se indignar?

Semana: 15 a 21.05.2011

Com certeza qualquer um de nós já sentiu aquela emoção que não deixa de nos envolver quando estamos torcendo. Pode ser no futebol, no vôlei, no basquete, no ping-pong, na bolinha de gude, ou mesmo em tantas situações não esportivas. Não há quem em toda a sua vida não se envolveu ou não vá se envolver num episódio de “torcer” e possa, sem perceber, até dizer um ou vários palavrões, sem querer, querendo.

A sensação é variada e depende pelo que você está torcendo ou o grau de relacionamento com o possível resultado. Às vezes, não tem nenhum relacionamento com o resultado, mas tem vínculos paralelos com alguém ou uma causa. E isto já é fator de grande mobilização e emoção.

Outras vezes, em especial, quando se trata de questões esportivas, o simples “gozar” o colega de trabalho já basta. A alegria e o despojamento são contagiantes. Até mesmo quem não é torcedor do time vencedor se sente envolvido.

E torcer não tem idade. A formação se dá desde criancinha. Em casa, no colégio, na rua, em tudo há formação para torcer. Não é incomum ver-se uma criança “carregada” com as cores do “time do coração” chorando pela perda do título; ou, então, um velhinho com mais de 80 anos, sorrindo, banguela, a conquista do campeonato.

Não é incomum ver-se, em qualquer canto do mundo, no futebol, no rúgbi, em qualquer esporte, manifestações imensas de pessoas alegres, torcedores ou apenas acompanhantes, vibrando, em festas exuberantes. Uma convergência de energias que nos parece poder mover montanhas.

Torcer parece estar ligado à emoção, e como emoção, às vezes, não se controla, porque não racional. Alguns intelectuais criticam, outros criticam quem critica; hoje, torcer, de forma geral, é “Cult”, isto é, é politicamente correto.

Não se pode deixar de dizer que, talvez, a busca dessa emoção seja da essência do ser humano, ou quiçá resquício dos processos históricos, como da política do pão e circo, da Roma antiga, onde quase todos os dias havia lutas de gladiadores nos estádios, com distribuição de alimentos.

Deve-se dizer também que, apesar de humanos, por vezes torcedores fanáticos, vivemos episódios de insurgência, históricos, de massa, em todos os cantos do planeta, em todas as épocas. No Brasil recente, nas “Diretas Já”, no “Fora Color”, reforçando o que diria Nelson Rodrigues: “A liberdade é mais importante do que o pão”.

É interessante observar como a mesma emoção que nos leva a torcer e que numa rapidez impressionante nos une e nos faz ser multidões, não é aquela emoção, que nós também temos quando nos indignamos com as injustiças e com o que achamos que não é certo na humanidade. Talvez, a tal modernidade nos leve a utilizar mais corriqueiramente, e efetivamente, as redes sociais para a auto-mobilização coletiva, como já ocorreu recentemente.

Porém, ninguém pode achar que é fácil encher um estádio com 50 mil pessoas para ouvir a música de Mikis Theodorakis: “Uma música mais forte do que os tanques de guerra”. Um Ceará e Flamengo talvez consiga com muito mais tranquilidade.

Alci de Jesus

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