domingo, 1 de maio de 2011

Agora, redes sociais?

Semana: 01 a 07.05.2011
Por um acaso, num desses repentes que sempre se espera seja longo, até por conta do exemplo a ser dado a uma filha querida, a gente se permite resgatar fervorosamente a leitura. Se você tem recursos para comprar pelo menos um livro por mês, legal, porque daí você lerá pelo menos 12 livros por ano, o que já é bem mais do que a média brasileira.
Mas, se dá a sorte de ter acesso a uma boa biblioteca da empresa onde trabalha, aí é uma oportunidade. Além disso, você pode também tentar a biblioteca da escola do seu filho (na do Colégio Santa Cecília tem vários livros da bibliografia do Saramago). Na realidade, toda escola tem que ter uma biblioteca, e, às vezes, é muito boa, e mesmo se não for diversa, não é possível que não tenha algum livro que agrade.  E ainda, ninguém pode alegar que não existe, todo município tem uma biblioteca, além das bibliotecas do Estado.
Passeando por uma dessas bibliotecas, um livro chamou a atenção: “Os 100 livros que mais influenciaram a humanidade”, de Martin Seymour-Smith. Na capa o chamativo subtítulo: a História do Pensamento dos Tempos Antigos à Atualidade.
Pelo sumário, vendo os livros que são retratados, já se tenta imaginar o teor das sinopses. E as sinopses, que na verdade não são sinopses, explicitam – com justificativas - a pretensa importância dada aos livros que são relatados.
Pelos primeiros livros, que seguem uma ordem cronológica, a partir de 1500 anos antes de Cristo, vê-se que é como se retratassem a origem do pensamento, da filosofia, antes mesmo da escrita.
Imaginar como por séculos, pela linguagem oral, foram reproduzidas aquelas histórias, que depois foram registradas pela escrita, é impressionante. Naquele tempo, onde as distâncias eram muito maiores do que hoje, onde as guerras pela ocupação do espaço e pela manutenção do poder era o cotidiano dos povos havia a preocupação da reprodução (ou aniquilação) das histórias das nações, inclusive como instrumento de dominação. Existiam pessoas que sobreviviam exatamente por emitir, verbalmente, a história de uma grande batalha, de uma grande vitória, de um grande sábio ou filósofo, de um ritual especial. Na verdade, naquilo que em nossa mente chamamos de passado, existia uma rede social, não exatamente como existe hoje.
É verdade, cada um de nós certamente ouviu o nosso pai, já na faixa dos cinqüenta, falar: “naquele tempo, as pessoas, na boquinha da noite, sentavam nas calçadas e contavam histórias”. Se recordarmos, na escola, as professoras contavam que os povos indígenas entoavam canções com as histórias de seus antepassados. E não raramente, se ouve falar de um acontecido, que passando de boca em boca, virou verdade verdadeira e passou a ser reproduzido e ensinado, com seus valores e atitudes virando doutrina para toda uma região.
Alguns, que se diriam saudosistas, reclamam que não há mais essa conversa, face a face; que não há mais oportunidades de contar as histórias; que os mais jovens não se interessam mais por isso.
Muitos alegam que a modernidade trouxe essa transformação. No Brasil a vida virou mais urbana, e a cultura de reproduzir oralmente histórias, que é mais rural, foi se perdendo. Alguns alegam que tem muita relação com as novas formas de comunicação.
De fato, a realidade da internet, com seu e-mail, msn, twitter, orkut e, agora, facebook é muito diferente e transformadora. As possibilidades de criação de páginas, blogs etc., assim como de se estabelecerem as conversas e relações é tão veloz, que pode ser sufocante. E não seria questionável se os educadores alegassem que, no geral, está se perdendo a profundidade.
Porém, parece que as novas mídias podem ser instrumento de resgate daquela velha rede social, dos nossos pais e avós, de nossos ancestrais, mas de outra forma. Parece ser concreta a possibilidade da construção (e resgate) de uma rede de amigos, e a partir do meio virtual se programar encontros, e vivenciar-se novos projetos presenciais.
É real, só que virtual, o “papo diário de calçada” e com um raio de ação muito maior do que somente os vizinhos de meia parede. Agora os amigos estão em todas as ruas do bairro, em todos os bairros, em toda cidade, no estado, no país e até no estrangeiro.
É fácil alguém convidar para uma audição dos velhos e bons discos de vinil na casa da Elaine, ou, então, para um jantar na casa da Bembi ou ser provocado pelo chamamento alegre da Fernanda para a saudação aos irmãos indígenas. A poesia, o romantismo desse concreto porvir depende de cada um.
Voltar ao passado, nos afastar dos nossos espigões, onde estamos engaiolados e protegidos, e de onde exalamos nossas palavras por meio das novas mídias pode ser difícil. Reconstruir essas mídias a nosso favor é uma possibilidade.
E por outro lado, mal comparando, a gente sabe que aquela cultura oral, que de certa forma está reproduzida nas redes sociais atuais, não se acabará jamais, basta ver como funciona a “rádio peão”, especialmente, nas conversas nos corredores da empresa ou no bate-papo no horário de almoço. Isso faz parte da gente, é como diz um velho amigo: “de quem vamos falar hoje?”. E depois, vem uma doce e enorme gargalhada.  
Alci de Jesus

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