domingo, 7 de agosto de 2011

Chispazo!

Crônica da Semana: 31.07 a 06.08.2011
Ninguém se impressionaria? Ao passear pela praia, em pleno sol de nove horas, olhar e ver o homem, de um casal refestelado na areia, retirar da mochila duas taças dessas para Martini e, oferecendo uma delas à parceira, iniciar os preparativos de bebericarem.
O certo é que, aparentemente, ninguém notou ou se notou, quem sabe, quem se importa?
Para quem observou e, sendo ou não da classe média, pôde fazer-se uma pergunta: um daikiri com coca? Isto porque ao lado do casal, em primeiro plano “à mesa”, dois litros do refrigerante, idolatria mundial (não só dos americanos).
Mas daikiri é feito com rum e açúcar. E de certa forma, pela delicadeza da taça, pelo umedecer do suco de limão na borda e a necessária fixação do açúcar à mesma, não parece ser uma bebida apropriada para a areia de praia, mesmo que ideal para os amantes.
O homem, com um bigodezinho à La Clark Gable e um olhar 43, fazia movimentos suaves, como quem soubesse executar os maneirismos que a elaboração de um coquetel exige. Talvez pela afinidade com o trato das taças, pois as pegava com maestria, fosse barman.  
Parecia também que entendia de romantismo. Talvez não compreendesse o movimento artístico, que se opôs ao racionalismo; muito menos que o ser romântico fosse baseado em valores emocionais subjetivos. O certo é que como um romântico, elevava os sentimentos acima do pensamento, da razão; naquele momento era pura emoção, exalava sensibilidade.
E como, por certo, não se importaria de mandar flores à amada, por que se importaria de oferecer um brinde amoroso, em plena beira-mar, no domingo, num dos locais mais procurados pelo povão? Nada não se encaixaria ao clima proporcionado por uma bela taça, daquelas de Martini, com alguma coisa e coca-cola, saboreada ao lado da amada.
Da mesma forma que a frase “um escritor é um exímio leitor”, no ensaio de Inocêncio de Melo ao analisar o livro de Ângela Calou (Eu tenho Medo de Gorki e outros Contos), indica uma premissa fundamental ao escritor, ao romântico é exigido um exímio exercício de explorar os estados de espírito de quem lhe está mais próximo, inclusive, o seu próprio.
Pela expressão de admiração da amada na praia, parece que ela compreendeu que muitas vezes mais vale o exercício da ação e o sentimento que a mesma lhe passa do que qualquer outra coisa. Parece não lhe importar se não é um Martini, se não é um Chispazo; mesmo que seja uma simples “porradinha”, já estaria valendo à pena, pois sente que o parceiro lhe deu valor, não só por lhe oferecer o coquetel em taças requintadas.
Talvez neste aspecto, o romântico re-signifique o que é belo. Talvez o romântico saiba como explorar a beleza das pequenas coisas, que a grande maioria não dá o seu devido valor. Talvez o romântico seja capaz de construir o clima da pura emoção, que às vezes é tão necessário e nos está tão à mão, e para o qual não é preciso muito para se conseguir obtê-lo.
Um belo coquetel em taças de Martini, com cachaça e coca-cola, na beira-mar da Iracema dos olhos de mel, por que não?
Poético? Romântico? Pois não! Emoção se faz com emoção!
Alci de Jesus

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