domingo, 17 de abril de 2011

Tudo ao mesmo tempo agora?

Semana: 17 a 23.04.2011

Como é que você consegue tempo para fazer tudo isso?

Essa pergunta, de alguma amiga ou mesmo de um conhecido, o qual tem alguma percepção de nossa vida, às vezes, nos assalta. E, geralmente, estão certos.


Até porque não quer dizer que é uma coisa boa. Por que seria? Será que é legal você querer ou precisar fazer tudo ao mesmo tempo, agora? O que quer dizer a palavra “agora”? Recuperar o tempo perdido?


Realizar tudo ao mesmo tempo agora parece um conceito tecnológico: tudo num mesmo espaço/tempo como um padrão comunicacional ou funcional que visa a garantir adesão, fidelidade e, principalmente, eficiência, com o objetivo de acelerar a realização de um objetivo, que envolve várias coisas.
Parece um conceito da modernidade.

Na faculdade de Direito, no final de 80, numa disputa para o Centro Acadêmico Clóvis Bevilácqua, uma das chapas chamava-se “Tudo ao mesmo tempo agora” e dava a noção de resgate de diversas ações, de várias temáticas que não vinham sendo realizadas. Em 1991, os Titãs lançavam o álbum com o mesmo nome, com mistura de ritmos, assim como Ana Maria Machado, em 2004, editava um livro sob o mesmo título, que trazia várias situações vivenciadas por um rapaz humilde.


As três situações podem ser coincidências e não ter relacionamento com o conceito futurista de aldeia global, de Macluhan, que em 1964 trouxe ao mundo a publicação “Os meios de Comunicação como Extensões do Homem”. E que segundo Coupland descreve uma revolução da televisão e das telecomunicações, estabelecendo as implicações da rede de consumidores quatro décadas antes que ela desabrochasse.


Podem ser coisas desconexas do futurismo de Macluran, mas também podem ser reproduções da vida, do mundo, da mídia, que nos assimila e nos modifica e nos leva a situações em que tudo é realizado ao mesmo tempo, em que tudo tem que ser realizado agora.


E o mais interessante é que, talvez, sem a gente perceber, de fato, tudo venha ao mesmo tempo e você vai fazendo, e apesar das coisas parecerem desconexas, elas são compreendidas como interdependentes.
É fácil perceber que isso acontece. Arranja-se um trabalho, estuda-se para arranjar outro trabalho, que lhe permite ter outros penduricalhos, e assim vai e você se vê trabalhando 12 horas por dia. É a Net funcionando. Um projeto; que começa a crescer e daí as facilidades comunicacionais, logísticas etc., os resultados pessoais, profissionais, financeiros e assim vai e você passa todo o seu tempo livre à frente de um computador. É a Net funcionando.

Pode parecer estranho essa atitude diante do mundo atual, globalizado, em que há linhas de pensamento exigindo que se desacelere (Boff) ou, então, que tenhamos mais ócio criativo (Domenico De Masi) ou que mudemos nossos hábitos, nossa vida, combatendo formas de estresse, uma das grandes doenças do século XX.


De fato, esse domínio produzido e reproduzido pela homogeneização global existe. Mas, às vezes, não é isso, as coisas são planejadas. Você tem a noção exata de que algum tempo ou algo foi perdido e que é necessário acelerar para poder transformar e mudar o rumo das coisas, para se aproximar daquilo que você entende como felicidade.


Por isso não dá para desconsiderar a atitude de um pai, que perdeu uma filha num atentado estúpido de um homem tresloucado, se o mesmo desejar mudar totalmente de vida, e buscar realizar tudo o que pode e não o fez, ainda.


Também não dá para inibir a vontade de quem, de repente, por qualquer tipo de perda ou revelação, percebe que passou boa parte da vida sem fazer as coisas que gostou de realizar, e vê ser possível, retomá-las, mesmo que os outros não entendam como arranja tempo.


Atitudes como estas não são alienadas, por vezes, é a busca do equilíbrio. Não seria insensato pensar em mudar o sistema, de forma a realizar as coisas necessárias, ao mesmo tempo, já, agora.


Então, não estranhem se a resposta àquela pergunta inicial for: “o que é que você faz de meia-noite às seis da manhã? Brincadeirinha.


Alci de Jesus 

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