domingo, 10 de abril de 2011

O que a morte causa em cada um de nós? Sobre as mortes em Realengo, no Rio de Janeiro.

Semana: 10 a 16.04.2011


Como não falar sobre a tragédia que ocorreu no Rio de Janeiro, Brasil, nesta ultima semana?

O Assis me liga e diz que nós temos que soltar alguma notícia quanto ao que aconteceu no Rio de Janeiro! E me pergunta o que acho. Daí se desenrola em poucas frases a aprovação mútua.

No site da Associação dos Funcionários do Banco do Nordeste – AFBNB sai nota de solidariedade às famílias em luto, que perderam filhas e filhos, e também às que estão sofrendo a expectativa do restabelecimento de seus parentes queridos.

E a nota da Associação coloca três grandes questões: Que modelo de sociedade nós construímos (e estamos construindo)? Que mundo nós queremos deixar para nossos filhos e netos? E o que podemos começar a fazer, hoje, para transformar essa cruel realidade?

As notícias do Rio mostram a explosão de sentimentos das pessoas. Não somente as famílias que tiveram os filhos ou parentes envolvidos com a tragédia sofrem ou passam por algum tipo de transtorno: medo, ansiedade, desesperança, raiva.

As famílias, em todo o Brasil, talvez no mundo, estiveram e estão preocupadas em como falar sobre o fato às suas crianças. Pôxa, mas nem na escola, no segundo local de moradia dos nossos filhos, há segurança? Como uma criança ou adolescente vai se sentir ao ir ao colégio, a um shopping, enfim, a qualquer lugar?

O fato atinge a todos e a informação chegou a todos. Minhas filhas, que às vezes não sabem de alguma notícia que está ocorrendo, pelo menos não com tanta tempestividade, sabiam de tudo logo no mesmo dia; ouviram falar dos detalhes, acorreram aos sites de informações para ver como havia acontecido.

Uma delas me liga no trabalho, e diz que não tem ninguém em casa. Relata que nenhuma das irmãs chegou do colégio, e que a secretaria saiu, que fora para a missa de sétimo dia do seu avô. Um pedido de apoio, talvez pela sensação de que o mundo está descontrolado e que a qualquer momento, onde você estiver, até na sua casa, você pode correr algum perigo.

Essa é uma sensação de verdade para uma criança ou adolescente. As mortes de Realengo, no Rio de Janeiro, e as da Holanda, no shopping passam essa percepção.

A morte é uma realidade para os seres viventes. E acontece mais próximo da gente, do que a gente às vezes percebe. Se pararmos um pouco e lembrarmo-nos daquelas pessoas próximas ou próximas de nossos amigos que morreram, veremos que não é uma coisa tão distante.

No âmbito pessoal, cada um, na sua individualidade, busca o caminho para enfrentar a dor da perda e a saudade de um ente querido que faleceu. Cada um vive o seu luto, no tempo e com os mecanismos que cria para suportar a ausência e as perspectivas que não mais existem.

Às vezes, é possível construir instrumentos de apoio à realização das perspectivas projetando outras perspectivas, por meio de movimentos de todos os tipos, montagem de blogs etc. É uma busca de, a partir do individual, socializar um compromisso com uma causa e dar significado a uma perda.

Mas como diria o Assis, neste caso do Rio de Janeiro há comoção e indignação. Perder uma filha, numa morte prematura, por motivo de doença, causa muita dor e mudanças profundas no nosso modo de pensar e agir. Perder uma filha numa tamanha brutalidade como a ocorrida no Rio de Janeiro exige que avancemos na promoção de mudanças no âmbito coletivo.

Não posso deixar de pensar na filosofia ingênua explicitada por uma adolescente: um dia sem sorriso é um dia perdido. E na frase cunhada a partir dessa visão e da importância que deve ser dado à educação: um dia sem aprendizado é uma dia perdido.

Que nós possamos aprender e fazer a transformação que esse mundo merece.

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